Ushuaia, a terra do fim do mundo

   Estivemos pela segunda vez em Ushuaia, a terra do fim do mundo, como dizem. A cidade cresceu muito, desde que lá aportamos, em 2006. E é muito bonita, com as montanhas geladas ao fundo, um clima sempre frio, o céu muito azul, no verão, e um mar lindo, quando sereno. É a cidade mais austral do continente americano, por isso, se diz do fim do mundo, mas a última é a pequena Porto William, pertencente ao Chile, mais ao sul ainda. De Ushuaia (os argentinos pronunciam Usuaia) , pode-se pegar um barco e fazer um passeio de bate e volta a Porto Williams, na entrada do Canal de Beagle. Os aventureiros adoram.

   Ushuaia está na moda. Alguns até a consideram “a cidade mais bonita do mundo”. Exagero! Localizada em uma colina íngreme e sujeita a ventos muito fortes, cidade está espremida entre a Cordilheira Martial e o Estreito de Beagle. Está a apenas 6m. acima do nível do mar e pode ser inundada a qualquer momento pelo derretimento dos glaciares fruto do aquecimento global. Ushuaia é a base dos navios de cruzeiro que vão à Antártica e dos pequenos passeios às ilhas repletas de pinguins no Canal de Beagle. Os argentinos a consideram a capital das Malvinas, nome que dão às Falklands situadas a 400 km dali.

   Há muito o que se fazer em Ushuaia, fora da cidade, minúscula e inadequada para caminhar, exceto a pequena orla. A segunda rua acima da beira-mar é a mais comercial, com lojas de suvenires, bares e restaurantes, mas a maioria dos turistas que vão a Ushuaia procuram a sua beleza natural, que são muitas. Sua região foi habitada pelo ser humano há milhares de anos, e foi colonizada por europeus a partir de meados do século XIX, que instalaram missões para catequização dos indígenas. Esses, porém, desapareceram sob o impacto da aculturação e da devastação causada por epidemias trazidas pelos colonizadores. A cidade cresceu lentamente ao longo da primeira metade do século XX, organizando-se em torno da instalação de um grande presídio, que trouxe muitos funcionários administrativos e atraiu novos colonos, mas também fez com que se formasse uma impressão sombria sobre o local. A partir da metade do século XX, o presídio foi extinto, a cultura se diversificou e o progresso se deu mais rápido, com a instalação de diversos serviços, a melhoria na infraestrutura urbana e a criação de incentivos governamentais para a fixação de novos residentes.

   Os principais pontos de interesse turístico em Ushuaia são as atividades ao ar livre, os passeios, os museus e a generosidade da natureza. Na cidade, aproveite para subir o Glaciar Martial, com uma vista lindíssima, e fazer um passeio para conhecer a Pinguinera, local para onde os pinguins migram no verão. Para conhecer as redondezas, pode-se fazer um passeio que leve aos lagos Fagnano e Escondido; para entender melhor a história desse curioso lugar, é indispensável uma visita ao Museu Marítimo e ao presídio. Recomenda-se, também, uma excursão ao Parque Nacional Terra do Fogo com um passeio no trem do presídio; a trilha da laguna Esmeralda e um passeio de barco pelo Canal de Beagle para ver pinguins. Na cidade, pode-se fazer um city-tour de uma hora num antigo ônibus estilo inglês e, depois, comer um delicioso cordeiro patagônico ou centolla  em algum dos restaurantes locais.   

Punta Arenas, porta do Estreito de Magalhães

circum-navegação do planeta. Na verdade, a segunda, pois, na segunda vez em que estivemos lá, em 2016,  o tempo fechou e tivemos de voltar às pressas para o navio, para nossa sorte, pois cerca de dois mil passageiros tinham ido fazer passeios e ficaram em terra até poderem regressar. Um sufoco! A história daquele Canal é uma saga de muitos sofrimentos. Não à toa, o principal ponto de atração da cidade é o cemitério. Como muitos morreram nessa tentativa de travessia, ficaram ali enterrados em suntuosos túmulos patrocinados por ricos familiares. Além deles, a principal atração do cemitério é a sepultura humilde de um indígena, tido pelos locais como milagreiro.

   A travessia do Canal é algo de espetacular! Montanhas com gelo de um lado e outro, por entre a chamada Terra do Fogo, pois, no passado, os povos originários sinalizavam a passagem com fogueiras, o que chamou a atenção dos primeiros navegadores. Por muitos anos, tentou-se a passagem pelos oceanos do ocidente para o oriente, em busca das almejadas especiarias, até que Vasco da Gama a descobriu, em 1498, contornando o sul da África. Depois, foi a vez de Fernão de Magalhães, outro português. Em busca de uma nova rota para chegar às Índias, terras das preciosas especiarias, Magalhães, a serviço da Espanha, traçou um plano para fazer essa viagem pelo Oeste, atravessando as Américas, em 1519. Depois de muitos percalços, ele descobriu que era possível acessar o Oceano Pacífico passando por um Canal, o atualmente chamado Estreito de Magalhães, batizado em sua homenagem por essa façanha. Mesmo sem conseguir sobreviver à aventura, pois foi morto nas Filipinas, pouco tempo depois, o explorador português ficou conhecido por ser o idealizador da primeira circum-navegação registrada, que também é chamada de a primeira “volta ao mundo” conhecida.

   Há muito o que se fazer em Punta Arenas, além de passear no cemitério. Recomendo a visita ao Museu dos Salesianos, uma excelente mostra do trabalho feito por eles de recolha de objetos dos povos originários e da fauna e da flora patagônicas. Os Salesianos estão lá há mais de cem anos, cristianizaram os antigos moradores da reunião e preservaram um tanto de sua memória. Após a visita ao Museu, que custa 10 US$, pode-se fazer visita a pinguins em ilhas do canal, a estâncias, onde se pratica a criação de ovelhas, ou a um antigo forte. Ou então, ficar passeando pela cidade, após três dias balançando no mar nada Pacífico, parar num bom restaurante local e saborear a excelente comida patagônica, à base de carnes ou de pescados, acompanhada dos maravilhosos vinhos chilenos, muito baratos ali. Torcer pra pegar um bom tempo e poder continuar a viagem, em paz. Naquela região, o tempo muda a todo instante, e o fator sorte é essencial. Salud!

Em Stanley, nas Falklands

Pela segunda vez, retorno a Porto Stanley, capital das Falklands, arquipélago inglês situado entre a Antártica e o continente Sul-americano, bem mais perto da Argentina do que da Inglaterra, país que a ocupa desde o século0 XIX, há uns duzentos anos. Os primeiros colonizadores foram os franceses, que ali chegaram em 1764, mas foram os ingleses que instalaram em Porto Stanley, desde 1845, um local para reparar navios que atravessavam o Estreito de Magalhães, durante a corrida do ouro, na Califórnia. Os argentinos sempre a chamaram de Malvinas e reivindicam a sua propriedade, mas nunca estiveram ali, permanentemente. As Falklands são inglesas, sem sombra de dúvida. E é assim que é vista, uma pequena  vila inglesa, no extremo sul do planeta, um lugar inóspito, sujeito a tormentas e a mudanças climáticas buscas, um vento frio do cão, que, mesmo no verão, quando fomos, o termômetro marcando 8º C, um vento frio dói até na alma.

   Diferente da primeira vez, Stanley está bem mais preparada para o turismo. Há centro de informações, ônibus indo e vindo para visitar pinguins, supermercado bem sortido, lojas boas de artesanato, bares e restaurantes poucos, mas funcionando, e o Museu muito mais bem organizado. Hoje, se pode fazer passeios para visitar os campos de batalha da guerra de 1982 e as colônias de pinguim, sem riscos de ser explodido por uma mina. Parece que a ilha está limpa, depois de um longo trabalho de busca dessas máquinas mortíferas.

   A ilha possui apenas três mil habitantes, muito educados, como é comum entre descendentes de ingleses; no entanto, é moradia para milhares de ovelhas, pinguins, focas e leões-marinhos. Em pouco tempo, pode-se fazer um passeio pela pequena Stanley, cujas principais atrações são a Catedral anglicana, a mais ao sul do planeta, com seu arco de ossos de baleia; a igreja católica e o museu histórico Dockyard, com bela exposição da história da cidade mas, e principalmente, com importantes documentos, fotos e objetos da Guerra de 1982 contra os argentinos. A Inglaterra venceu o conflito em apenas 76 dias e ali se encontra o memorial com a relação dos mortos ingleses, um terço do contingente argentino. Nas Falklands, há um cemitério com centenas de soldados argentinos mortos, jovens que perderam a vida levados pela estupidez da junta militar no poder. Há de se tomar cuidado para que a história não se repita, com um desequilibrado mental no poder.

   Creio que a maior atração para os que vão a Stanley, seja visitar os pinguins. Os mais fáceis de ver são os da Bluff Cove, aonde se pode ir de ônibus, pagando 20US$, ida e volta. Há um pequeno observatório e de lá caminha-se pela praia um bom pedaço para se chegar até a colônia. Recomenda-se roupa e sapatos adequados para caminhar na areia. Há outros pontos de observação de pinguins mais distantes, em Rockhopper e Volunteer point, aonde só se chega em veículo 4 x 4, não recomendável para idosos ou para os que têm qualquer problema de locomoção ou de coluna. Se quiser ver os leões-marinhos, deverá ir até o Kelp Point, a 1,5 hora de Stanley. Para os aficcionados por guerra, há passeios aos campos de batalha, onde se pode ver os bunkers, buracos de raposa, roupas descartadas, munições não usadas e minas não explodidas. Prefiro o que vi no museu, e já foi suficiente para comprovar o quanto são estúpidas e insensatas todas as guerras.

Pela segunda vez, retorno a Porto Stanley, capital das Falklands, arquipélago inglês situado entre a Antártica e o continente Sul-americano, bem mais perto da Argentina do que da Inglaterra, país que a ocupa desde o século0 XIX, há uns duzentos anos. Os primeiros colonizadores foram os franceses, que ali chegaram em 1764, mas foram os ingleses que instalaram em Porto Stanley, desde 1845, um local para reparar navios que atravessavam o Estreito de Magalhães, durante a corrida do ouro, na Califórnia. Os argentinos sempre a chamaram de Malvinas e reivindicam a sua propriedade, mas nunca estiveram ali, permanentemente. As Falklands são inglesas, sem sombra de dúvida. E é assim que é vista, uma pequena  vila inglesa, no extremo sul do planeta, um lugar inóspito, sujeito a tormentas e a mudanças climáticas buscas, um vento frio do cão, que, mesmo no verão, quando fomos, o termômetro marcando 8º C, um vento frio dói até na alma.

   Diferente da primeira vez, Stanley está bem mais preparada para o turismo. Há centro de informações, ônibus indo e vindo para visitar pinguins, supermercado bem sortido, lojas boas de artesanato, bares e restaurantes poucos, mas funcionando, e o Museu muito mais bem organizado. Hoje, se pode fazer passeios para visitar os campos de batalha da guerra de 1982 e as colônias de pinguim, sem riscos de ser explodido por uma mina. Parece que a ilha está limpa, depois de um longo trabalho de busca dessas máquinas mortíferas.

   A ilha possui apenas três mil habitantes, muito educados, como é comum entre descendentes de ingleses; no entanto, é moradia para milhares de ovelhas, pinguins, focas e leões-marinhos. Em pouco tempo, pode-se fazer um passeio pela pequena Stanley, cujas principais atrações são a Catedral anglicana, a mais ao sul do planeta, com seu arco de ossos de baleia; a igreja católica e o museu histórico Dockyard, com bela exposição da história da cidade mas, e principalmente, com importantes documentos, fotos e objetos da Guerra de 1982 contra os argentinos. A Inglaterra venceu o conflito em apenas 76 dias e ali se encontra o memorial com a relação dos mortos ingleses, um terço do contingente argentino. Nas Falklands, há um cemitério com centenas de soldados argentinos mortos, jovens que perderam a vida levados pela estupidez da junta militar no poder. Há de se tomar cuidado para que a história não se repita, com um desequilibrado mental no poder.

   Creio que a maior atração para os que vão a Stanley, seja visitar os pinguins. Os mais fáceis de ver são os da Bluff Cove, aonde se pode ir de ônibus, pagando 20US$, ida e volta. Há um pequeno observatório e de lá caminha-se pela praia um bom pedaço para se chegar até a colônia. Recomenda-se roupa e sapatos adequados para caminhar na areia. Há outros pontos de observação de pinguins mais distantes, em Rockhopper e Volunteer point, aonde só se chega em veículo 4 x 4, não recomendável para idosos ou para os que têm qualquer problema de locomoção ou de coluna. Se quiser ver os leões-marinhos, deverá ir até o Kelp Point, a 1,5 hora de Stanley. Para os aficcionados por guerra, há passeios aos campos de batalha, onde se pode ver os bunkers, buracos de raposa, roupas descartadas, munições não usadas e minas não explodidas. Prefiro o que vi no museu, e já foi suficiente para comprovar o quanto são estúpidas e insensatas todas as guerras.

Antártica, reserva natural da humanidade

Acabo de fazer uma viagem incrível ao único continente a que não tinha visitado, a Antártica, ou Antártida, um dos seis continentes que formam o planeta Terra. Prefiro o primeiro nome, por estar em oposição ao Ártico, que visitei no ano passado. Estive num cruzeiro que saiu de Ushuaia, passou pelo terrível canal Drake, onde se encontram as águas dos Oceanos Atlântico e Pacífico e o movimento das placas tectônicas provoca ondas enormes e um mar muito agitado. Nossa primeira paisagem da Antártica, mal avistada, foi  o iceberg A23a, considerado o maior do mundo; depois, passamos pela ilha Elefante e nos dirigimos à Baía do Almirantado, onde passamos toda a manhã.  Ela possui cerca de 8km na costa sudeste da Ilha do Rei George, a cerca de 16 km das ilhas Shetland do Sul. Levantei cedo e fui contemplar o sol nascer. Estava um dia lindo, um frio gostoso de -3°C e uma neve muito fina. Sobre nós, voavam pássaros predadores, os mandriões, e, no mar, avistamos baleias dormindo na superfície, alguns golfinhos e leões-marinhos. Um espetáculo! Nessa baía, se encontram duas estações científicas de pesquisa, a polonesa e a brasileira, a Comandante Ferraz.

   Dali, nos dirigimos à Baía Charlote e à Baía Guilhermina, por entre montanhas de gelo de um lado a outro do caminho e inúmeros icebergs, alguns maiores que os maiores edifícios de nossas cidades. O dia estava esplêndido, um gostoso sol de verão antártico e uma temperatura em torno de 0°C. Pelo caminho, víamos baleias, golfinhos e algumas aves sobrevoando o navio. No entanto, a presença, cada vez maior, de navios de cruzeiro e de barcos de pesca acaba trazendo consigo o maior perigo à vida marinha: a poluição dos plásticos. Por mais cuidado que se tenha, a contaminação de resíduos não biodegradáveis também chegou à Antártica. Pesquisas estão sendo feitas, mostrando como o plástico, apesar das fortes correntes marítimas, também chegou ao continente mais deserto do mundo e afeta todo o ecossistema antártico.

   No dia seguinte, passamos pelo Canal Neumayer e chegamos a Port Lockroy, onde alguns pesquisadores vieram a bordo para vender suvenires. De lá, se pode mandar postais para o resto do mundo, o último lugar do planeta onde se pode fazer isso, mas alguns poucos privilegiados conseguiram comprar selos, no navio, para essa rara experiência. Passamos o resto do dia, contemplando aquela paisagem maravilhosa: de um lado, montanhas de até quatro mil metros de altura, do outro, ilhas, baías, icebergs, toda uma fauna marinha, hoje, preservada. Até meados do século XX, havia uma intensas caça às baleias e isso quase as exterminou. Países como a Noruega e o Japão, que até hoje ainda permitem a  caça a esses animais, disputavam aquela região para exercer essa prática abominável.  No último dia na Antártica, passamos pela Ilha da Decepção, que leva esse nome, pois antigos navegadores acreditavam ali piratas terem escondido ouro, onde há praias repletas de pinguins de várias espécies, focas e leões-marinhos. A ilha é formada por um vulcão, cuja erupção, em 1967, provocou estragos nas estações de pesquisa argentinas, chilenas e britânicas, eternos rivais na disputa pelo controle dessa área. Voltamos pelo famigerado Canal Drake, que fez o navio mexer bastante, diferente da ida, até chegarmos a Stanley, capital das Falklands, ou Malvinas, para os argentinos.

   Apesar de ter condições atmosféricas extremas, como frio intenso e persistente, ventos fortes, tempestades de neve e umidade do ar baixíssima, sendo considerada o maior deserto do mundo, a Antártica é a maior reserva de água doce do Planeta. Possui uma população temporária entre mil pessoas, no inverno, e  quatro mil, no verão, formada, em sua maioria, por pesquisadores que atuam na exploração científica da região. A atividade de pesquisa e a gestão do espaço físico do continente são feitas mediante o Sistema do Tratado da Antártica, criado em 1959 e conta, atualmente, com 56 países signatários. O cumprimento dos acordos previstos no documento e assinados posteriormente é de fundamental importância para a manutenção do continente, também ameaçado por problemas ambientais, como o aquecimento global. É necessário destacar que existem reivindicações territoriais por diferentes países sobre o continente antártico. Embora haja uma divisão informal, essas áreas reclamadas não são oficialmente reconhecidas pela comunidade internacional. A Antártica é, ou deveria ser, pela primeira vez, na história da humanidade, uma terra de todos e, talvez, quando tudo estiver destruído no restante do Planeta, será a última morada dos remanescentes terráqueos.

Blankenberge, na Bélgica

   Blankenberge, na Bélgica, fica próxima a Brugges, a mais famosa cidade turística da Bélgica. De lá, pode-se ir de trem ou de ônibus, em meia-hora, a Brugges, e os navios de cruzeiro param na vizinha Zeebrugge. Situa-se na província de Flandres Ocidental e tem uma população de cerca de vinte mil habitantes. Possui uma praia arenosa e feia, com uma estrutura única ao longo da costa belga, um píer de 350 metros de extensão, construído em 1933. Em Blankenberge, nasceu Adolf E. Fick, o inventor das lentes de contato, e o pintor flamengo Frans Masereel (1889).

   Como já fomos a Brugges três vezes, na primeira, dormimos na cidade e nos perdemos à noite, na neblina, sem conseguirmos achar o hotel, a poucos passos de nós. Na época, não havia telefone celular com GPS e rodávamos em círculo, sem encontrar uma vivalma que nos indicasse o caminho a seguir. Para nossa sorte, Nossa Senhora dos Aflitos, protetora dos turistas desorientados, nos colocou no caminho alguns amigos brasileiros, que estavam conosco, e se dirigiam ao hotel, após uma noite alegrada pela deliciosa cerveja belga. Juntamo-nos a eles, sem dizer que estávamos perdidos há  um tempão, e logo avistamos o hotel. Ufa! Em outras viagens, caminhamos pela cidade medieval, visitamos igrejas e museus, passeamos de barco por seus canais, fizemos o que todo bom turista deve fazer.

   Dessa vez, resolvemos ficar em Blankenberge, a pequena e simpática cidade belga à beira-mar, para fazer compras para filhos e netos, saborear o delicioso chocolate belga, ou uma cerveja, comer alguma coisa local, o mais famoso é “moules et frites”,  mexilhão com batata-frita, e simplesmente descansar para enfrentar a longa volta para casa.  Esqueça a praia! É horrível, em comparação com as praias brasileiras. E o tempo nunca ajuda. Chove muito nessa região. Ou faz frio. Por isso, as grandes lojas são calafetadas ou têm lâmpadas muito quentes. A gente entra todo encapotado da friagem lá fora e, dentro, começa a suar, enquanto procura o que comprar. O jeito é tirar os agasalhos para, depois, colocar tudo de novo. Um saco!

   Além das compras, o que ver em Blankenberge? Muito pouco. Há o quarteirão “belle époque”, com casas e prédios da primeira metade do século XX, que não foram destruídos nas grandes guerras, a bela igreja de Santo Antônio e a de Nossa Senhora e, talvez, mais alguma coisa fora do centro. Não procuramos, pois o que desejávamos era fazer compras e sentar para apreciar os sabores locais. Em paz! O belga é extremamente educado, solícito, com a finesse que os franceses não têm mais com os turistas, ou nunca tiveram, falam diferentes línguas e procuram  entender as que não falam. Fiquei surpreso com os preços dos vinhos no supermercado: com 3 euros se compra vinho de qualidade e com 10, um reserva, de diferentes países. No navio, o vinho mais barato custava 47 dólares, ou seja, quase 250 reais. Pena que não se pode trazer, pois o transtorno, o excesso de peso e o risco são grandes. Hoje, fazer turismo em pequenas cidades é muito mais agradável do que nas grandes. O ‘overturismo’  tornou Roma, Paris, Londres, Nova Iorque, insuportáveis, em determinadas épocas do ano.  Daí, cidades como Blankenberge se tornaram boas opções para quem não quiser se estressar em viagens.

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Os fiordes da Noruega

Como viajante contumaz, pois já visitei cerca de 130 países no mundo, as pessoas me perguntam qual é o mais bonito. A resposta depende de uma série de fatores: belezas naturais, construções arquitetônicas, passado histórico ou até o seu estado emocional. Às vezes, vamos a lugares lindos, famosos, mas não estamos bem, emocionalmente, ou temos uma companhia que não compartilha os mesmos gostos que a gente, e tudo desanda. Ou então, é a época, o tempo meteorológico, o excesso de turistas em alguns lugares, tudo pode estragar uma viagem tão sonhada. Visitar grandes cidades como Londres, Paris, Roma, Nova Iorque, em época de férias escolares ou no verão é pedir para sofrer. Gosto de caminhar e com ruas repletas de gente fica impossível. Verão na Europa é um horror.  Mesmo nós que estamos acostumados ao calor do Brasil, sofremos muito com o calor no hemisfério norte. Ir à Espanha, Itália ou Grécia, em agosto, é experiência que nunca mais quero ter. Por outro lado, o frio intenso no Canadá, no Alasca ou na Escandinávia impossibilita qualquer prazer de viajar por esses país.

   A melhor época para viajar é na primavera e no outono, desde que se escolha bem o roteiro. No entanto, para se ir aos lugares frios acima citados, o verão é uma boa. Tive a oportunidade de visitar, no final do último verão, a Noruega e posso afirmar, com toda certeza, que um dos lugares mais belos do mundo são os fiordes daquele país. Fiordes são grandes entradas do mar entre altas montanhas rochosas, originadas por erosão causada pelo gelo de antigo glaciar. Os fiordes ocorrem, principalmente, nas costas da Noruega, mas também ocorrem na Groelândia, Chile e Nova Zelândia, dentre outros países. Exceto a Groelândia, que ainda não visitei, os demais são países belíssimos, com belezas naturais dentre as mais belas do mundo.

   A Noruega é conhecida como a “terra dos fiordes”, que se originaram devido à ação de gelo, os chamados glaciares, ou geleiras, que se movimentam rumo ao mar como se fossem grandes rios congelados. Os fiordes só existem em regiões costeiras montanhosas onde o clima é suficientemente frio para permitir a formação de glaciares abaixo do nível atual do mar. Já visitei glaciares no Chile, no Alasca e na Noruega. Infelizmente, eles estão sofrendo com o aquecimento global e podem vir a desaparecer, o que será catastrófico para a humanidade. Em seus 25 mil quilômetros de costa, a Noruega possui mais de mil fiordes, sendo os maiores os de Sogn, Trondheim e Oslo. O Sognefjord é considerado o maior do mundo, o “rei dos fiordes”, com mais de 200km de extensão, cerca de 1.300 metros de profundidade e paredões que podem chegar a 1.700 metros de altura. Pode ser visitado a partir de Bergen, considerada a “cidade dos fiordes”. A palavra norueguesa “fjord” é uma das poucas dessa língua incorporada ao vocabulário universal, como samba, favela e caipirinha, do Brasil.

   Passei duas semanas percorrendo alguns desses maravilhosos fiordes, contemplando as mais belas paisagens do mundo e posso afirmar que é um cenário de indescritível beleza. Seguem algumas fotos para ilustrar.

Viagem ao Ártico

                                 Viagem ao Ártico

   Nunca havíamos planejado ir ao Ártico. Estivemos próximo, quando fomos à Islândia, em Akureyri, há alguns anos. Sempre quisemos ir à Antártida, mais próxima de nós, já que vivemos no hemisfério sul. No entanto, escolhemos para nosso passeio anual, neste ano, um cruzeiro à Noruega, que incluía uma travessia do Círculo Ártico, Lat, 66°C 33.7”N, Long. 010° 42.6’ E, e chegamos até o Cabo Norte, Latitude 71°N, Longitude 025° 49.0’E, o ponto mais extremo ao norte da Europa. Felizmente, a temperatura estava extremamente agradável e, em Honingsvag, onde aportamos, fazia 8°C, pela manhã e 12°C, à tarde. Era final de verão, a melhor época para se ir de navio a essas paragens.

   Saímos de Southtampton, na Inglaterra, no dia 19 de agosto e, dois dias depois, chegávamos a Bergen, a segunda maior cidade da Noruega. Bergen situa-se na costa sudoeste da Noruega e possui cerca de 250 mil habitantes. Fundada em 1070, foi a capital do país na Idade Média. Era uma importante fortificação viking  e o cais do porto antigo, o Bryggen, ainda preserva o antigo centro comercial repleto de casinhas de madeira coloridas, hoje tombadas como Patrimônio Mundial pela Unesco. Nos armazéns e estalagens de outrora, atualmente funcionam museus, restaurantes e lojinhas, numa atmosfera acolhedora, com turistas circulando a um cenário quase cenográfico. Há muito o que se fazer em Bergen. Há muito o que se admirar na cidade. Para os que curtem, vale subir até o Monte Floyen, de teleférico, para admirar a paisagem, ou então, sentar-se no mercado de peixes e apreciar os saborosos pratos à base de peixes frescos de vários tipos. Também vendem petiscos de alce, rena e baleia, já que a Noruega é, infelizmente, um dos poucos países que ainda caçam baleias, junto da Islândia e do Japão. Bergen é a porta de entrada para visitar os famosos fiordes, uma das paisagens mais lindas do mundo.

  Após uma visita à bucólica Flam, povoação de 450 habitantes, onde passei meu aniversário, chegamos a Trondheim, a terceira maior cidade do país, com pouco mais de duzentos mil habitantes. Fundada em 997, foi a capital da Noruega durante a era Viking, até 1217. Era um entreposto comercial, que ligava o norte e o sul do país e de 1152 a 1537 foi sede da Arquidiocese de Nidaros, o antigo nome da cidade, onde se situa a Catedral de Nidaros, a maior do país e centro de peregrinação durante a Idade Média. Segundo a tradição, ali foi sepultado Santo Olavo, que converteu o país ao cristianismo e, durante muitos anos, era o local de coroação dos reis da Noruega. Atualmente, consagração e casamentos reais ocorrem nessa imponente catedral gótica, uma das mais bonitas do norte da Europa. Ao lado da catedral, pode-se visitar o antigo Palácio do Arcebispo, hoje um museu, onde, dentre muitas relíquias, encontram-se objetos valiosos dos antigos reis da Noruega. Trondheim é uma cidade universitária e importante centro comercial. Fácil de caminhar, repleta de museus e de construções modernas ao lado de antigas, é uma das mais belas cidades da Noruega.

   Mais alguns dias de navegação e atravessamos o Círculo Polar Ártico, dobramos o Cabo Norte e chegamos a Honningsvag, a pequena e simpática cidade de 3.500 habitantes, uma das mais ao norte da Europa. Localizada à latitude 70° 58’N, no município de Nordkapp, na costa sul da ilha de Mageroya, Honningsvag disputa com Hammerfest e Longyearbyen, também na Noruega, e Barrow, no Alasca, o título de cidade mais setentrional do mundo. O seu porto abriga navios de cruzeiro por passageiros ávidos por irem até o Cabo Norte, uma viagem de três horas de ônibus para ir e mais três para voltar. Também há passeios de helicóptero para os mais abonados financeiramente. Não há muitas atrações na cidade, mas se pode visitar um pequeno museu e a pequena igreja luterana, no alto da colina, a única construção que restou, após a II Guerra Mundial. Os nazistas ocuparam a localidade para alcançar a Rússia e grandes batalhas foram travadas ali. Nada restou da antiga povoação, a não ser a pequena igreja, testemunha solitária da ambição e da violência humanas.

   Na volta, visitamos Tromso, intitulada a capital do Ártico. A cidade possui cerca de 40 mil habitantes e é o melhor lugar para se ver as “luzes do Norte”, ou “aurora boreal”, mais comuns durante o inverno. É a maior cidade do norte da Noruega e se localiza a 300 km ao norte do círculo polar ártico. De novembro a janeiro, a cidade está imersa numa noite ártica. O sol volta a aparecer em 21 de janeiro, quando a cidade celebra o “Dia do Sol”. No verão, é época de ver o sol da meia-noite. Era domingo, quando chegamos a Tromso, por isso a cidade estava bem deserta, com poucas lojas abertas na praça da antiga catedral. A moderna catedral situa-se do outro lado da ponte, que não atravessamos. Caminhamos pela beira-mar e visitamos o Museu do Troll, muito apreciado pelas crianças e o Museu Polar, onde se pode ver uma pequena história da conquista do Polo Norte. Amundsen, o célebre conquistador, é natural de Tromso e sua estátua está na entrada do Museu. Tivemos bom tempo, embora a cidade seja famosa pela chuva e pelo frio congelante. Muita gente se aventura a ir lá, no inverno, na tentativa de ver a aurora boreal. Já a vimos, na Finlândia, há alguns anos, e não voltaria a Tromso, no inverno, nem que a vaca tussa rs.

Stonehenge e seu misticismo

Há muito tempo, desejávamos visitar Stonehenge, na Inglaterra, mas a pandemia de coronavírus adiou nossos planos. Agora, chegou a hora e conseguimos. Valeu a pena! Saímos de Southampton, o segundo maior porto da Inglaterra, com uma excelente guia, e passamos por lugares incríveis como a New Forest e Salisbury, com a sua Velha Sarun, como é conhecida sua imponente catedral. Confesso que me deu vontade de parar e ficar em Salisbury. O centro histórico estava todo enfeitado de bandeirinhas e nos lembrou as nossas tradicionais festas de São João. Ao chegarmos a Stonehenge, após uma hora e meia de uma viagem muito agradável, avistamos da estrada as famosas pedras, em formato circular, cujo significado real até hoje ninguém descobriu. Existem algumas teorias ou suposições, criadas após as descobertas de alguns indícios. A primeira é que Stonehenge era um templo onde os druidas, os sacerdotes celtas, realizavam sacrifícios humanos em oferenda aos deuses. Já no século vinte, o astrônomo Sir Norman Lockyer sugeriu o que, atualmente, é considerado o verdadeiro objetivo da edificação: um calendário que capacitava os antigos sacerdotes a calcular as posições do Sol, da Lua e dos planetas, ao longo do ano. Espaços entre os trílitos (três pedras, sendo duas verticais e uma horizontal) permitem uma visão acurada das ascensões solares e lunares, enquanto as aberturas entre eles, uma série de 56 cavidades cheias, servem como uma sofisticada calculadora de eclipses lunares. Portanto, Stonehenge tem sua fama por sua dupla natureza: um lugar cerimonial, de práticas místicas e religiosas, e um calendário astronômico, quase científico, que mostra como o conhecimento das estações do ano e do próprio tempo ligava-se, intimamente, às práticas agrícolas, época de plantio e de colheita, intimamente ligado a antigas práticas religiosas e rituais.

   A palavra henge, em inglês, significa um círculo pré-histórico constituído de grandes pedras ou objetos de madeira. Stonehenge não foi o maior deles. O grande complexo megalítico de Avebury, em Wiltshire, próximo dali, foi, no passado, maior do que Stonehenge.  Sua parte mais antiga, o “Santuário”, data da mesma época, cerca de 3.000 a.C. Havia um enorme círculo de 90 blocos de pedra, cada um com cerca de cinco mil toneladas, e dois círculos menores com 30 pedras cada. Na Idade Média, muitas das pedras foram utilizadas em outras construções ou enterradas, para desencorajar ritos pagãos. Stonehenge foi construída, incialmente, cerca de 3.000 a. C, em madeira. O primeiro “henge” era de pedras azuis, compreendendo uma vala circular de 98 metros de diâmetro e com as 56 “Aberturas Aubrey”; os espaços entre elas, foi construído por volta de 2.000 a.C. Muitas das pedras azuis foram retiradas, quando se ergueu Stonehenge III, ao redor de 1.900 a.C, o grande círculo de 30 megalitos (grandes pedras) com lintéis (verga de madeira ou pedra que constitui o acabamento da parte superior de portas e janelas) e uma ferradura constituída por cinco trílitos. Stonehenge se alinha com a velha catedral de Salisbury e a outras construções neolíticas ou medievais próximas dali. Enfim, há todo um misticismo em torno dessas ruínas e isso fez seu tombamento pela Unesco como “Patrimônio Mundial da Humanidade”, juntamente com Avebury, em 1986. Dali pra cá, se tornou um dos lugares mais visitados da Inglaterra e do mundo.   

   Ao chegar ao Centro de Visitantes, há uma exibição com vários objetos arqueológicos e uma experiência audiovisual em 360°, que nos dá uma amostra da história de Stonehenge e de suas relações com outros sítios históricos próximos dali. Após a ida ao banheiro e ao café, é hora de se dirigir às pedras. Há duas maneiras: uma de ônibus gratuito, e, em menos de dez minutos, você é deixado bem perto do monumento; a outra é ir a pé, caminhando pelo pasto, entre as vacas inglesas. Como o tempo estava agradável e convidativo, fomos a pé, para nos prepararmos para a longa espera de aeroporto, que teríamos mais tarde. Foi bom, mas não recomendo para os que não tiverem boa disposição e boa forma física. Adoramos Stonehenge. Valeu a espera.  

VISÕES DA NORUEGA

   Passei quinze dias viajando de navio pela Noruega, de Bergen a Honingsvag, no extremo norte do país, já quase na fronteira com a Rússia, e deu para ter uma noção legal desse país que é considerado um dos mais desenvolvidos do mundo, um dos maiores IDH, Índice de Desenvolvimento Humano, e um dos mais pacíficos e agradáveis para viver. Claro, era final de verão, peguei uma temperatura superagradável, nunca menos de 8° C e não superior a 18°C. Uma delícia de clima para viajar, caminhar, contemplar a natureza exuberante, navegar em seus encantadores fiordes, com cascatas desaguando no mar e casinhas coloridas à margem, cada paisagem mais bonita do que a outra.  A Noruega é um país para se viver em contato com a natureza, daí ser o paraíso para os que fazem caminhada, escalada, alpinismo, canoagem, todo tipo de esporte em contato com a natureza. Por todo lado, veem-se montanhas e água. Herdeiro do povo viking, que teve seu auge de 799 a 1.066 d.C, e viajou pelo mundo todo, chegando às Américas quinhentos anos antes de Colombo, o norueguês se alimenta e vive da água.

   Nós, brasileiros, nos acostumamos, desde a colonização portuguesa, a associar a Noruega ao bacalhau, esse peixe curtido em sal, barato, no passado e, hoje, caro para nós. No entanto, o bacalhau é um alimento dos portugueses, que o usava para as grandes travessias, sem estragar. Fui a vários supermercados na Noruega, a mercados de peixe, a restaurantes e em nenhum lugar vi bacalhau, como o comemos aqui. Eles comem, e muito, peixe fresco, principalmente salmão e truta, mas há uma enorme variedade de pescado, o principal alimento deles, comido fresco. Talvez daí venha a longevidade do povo e a sua saúde. Vi muitos carneiros e pouco gado bovino. Eles não têm grandes pastagens para o cultivo desses animais, por isso, a carne é importada, e cara. Nada é barato, para nós, na Noruega, que tem um salário mínimo em torno de quinze mil reais, ou seja, 2.800 euros. Embora não pertença à União Europeia e nem adote o Euro como moeda, a moeda local é o NOK, a coroa norueguesa, a Noruega é membro fundador da OTAN, a Organização do Tratado do Atlântico Norte, pois foi invadida pelos nazistas, na II Guerra, que a usaram como trampolim para chegar à URSS. É um país pacífico, com pequeno contingente nas forças armadas, que procura se manter neutro nas brigas mundiais, mas teme a proximidade com a Rússia, país bélico, sempre disposto a aumentar suas fronteiras.

   O que faz ser a Noruega um país tão desenvolvido, entre os top 5 do mundo? Em alguns quesitos, só fica atrás de Luxemburgo e do Catar, países muito pequenos e pouco populosos, cuja renda vem do mercado financeiro, no caso do primeiro, ou da exportação de petróleo e gás, no do segundo. Parece que o sucesso da Noruega, no cenário mundial, esteja no modelo social adotado nos países nórdicos, concentrando recursos na saúde universal, num regime abrangente de previdência social e, sobretudo, na educação de qualidade para todos, subsidiada até o ensino superior. Desde 2001, a Noruega está classificada como um dos países mais desenvolvidos do mundo e o Índice Global da Paz a coloca entre os mais pacíficos. Em 2017, um estudo feito por peritos internacionais classificou-a como o país mais feliz do mundo, superando a Dinamarca, eleita em 2016.  Um paraíso na terra? Talvez seja, embora para nós, brasileiros, não seja fácil viver lá, pelo clima, pela língua, tão diferente da nossa, pelos costumes, pela alimentação, pela falta de praias, sol, calor, carnaval e cerveja barata. Um chope custa em torno de 100 NOK, cerca de 50 reais. Quem se habilita? Bebida é cara, pois os impostos são altos. Afinal, o estado precisa arrecadar para oferecer os serviços de qualidade que dá à população. E lá, o que se arrecada é devolvido ao povo. A Transparência Internacional, em 2022, colocou a Noruega em segundo lugar, logo após a Dinamarca, entre os países menos corruptos do mundo. Como nem tudo é perfeito, comem alce, baleia e rena! 

Do porto de Safaga a Hurghada, no Egito

                        

   Geralmente, quem vai ao Egito o faz para visitar as pirâmides, a famosa esfinge de Gizé e o Museu do Cairo com as suas preciosidades históricas. Isso pode ser feito em três dias. Depois, as pessoas escolhem visitar Luxor e o Vale dos Reis, ao sul, ou fazer um cruzeiro pelo Rio Nilo de três a sete dias, dependendo de até onde quer ir ou de quanto tempo dispõe. Mas o Egito não é só isso. Há as cidades de Alexandria e Porto Said, no Mediterrâneo, que podem ser visitadas quando se faz cruzeiro pelo Mediterrâneo ou a Península do Sinai, para os que pretendem subir o Monte Sinai, local sagrado para os que têm a Bíblia como livro sagrado, hospedando-se no Mosteiro de Santa Catarina, aos pés do Monte.

   Para europeus, sobretudo, além desses roteiros clássicos, há o turismo de praia, que se desenvolve na costa do Mar Vermelho. O mais conhecido é Sharm El-Sheik, ao sul da península do Sinai, em direção a Eilat, a única cidade israelense situada no Mar Vermelho. É um local paradisíaco muito apreciado para congressos e conferências, mas muito visado pelos terroristas, pois é um local estratégico e eles querem desestabilizar o país e implantar ali um islamismo fundamentalista. A segurança no Egito é levada a sério, a todo momento há check-points para proteger os turistas.  Isso torna as viagens um tanto mais demoradas e cansativas, mas, é o preço que se paga por visitar um lugar tão visado por terroristas sanguinários.

   Como é a terceira vez que viajo ao Egito, optei por conhecer, dessa vez, a região turística do Mar Vermelho, do Porto de Safaga a Hurghada. O Porto de Safaga situa-se a 63 Km ao sul de Hurghada e de lá pode-se fazer os passeis a Luxor, ao Vale dos Reis e a Karnac, que levam o dia inteiro e muitas horas de estrada pelo deserto sob um sol causticante. Ainda bem que já fui a esses lugares e pude optar por um roteiro mais leve e agradável, indo de Safaga a Hurghada, por uma estrada asfaltada e pouco movimentada, passando por alguns balneários à beira-mar e resorts confortáveis para todos os gostos e preços. Essa região é famosa por turismo especializado em submarinismo, visto que  a cor que dá nome ao Mar Vermelho só pode ser vista no fundo do mar, pelas algas e a sua extraordinária fauna marinha. Por cima, o Mar Vermelho é azulzinho, em várias tonalidades de azul, com areia branquinha e várias ilhas que se tornaram paraísos para os amantes do mar. Safaga já foi sede do Campeonato Mundial de Windsurfing e a região é famosa, também por suas minas de fosfatos. Parece que suas águas e areias também têm poder terapêutico, se não pelos minérios, por sua beleza convidativa ao desestresse.

   Hurghada é uma cidade maior, com cerca de 200 mil habitantes. Seu balneário e resorts se estendem por uma faixa de 40 km pela costa egípcia do mar Vermelho. Possui uma parte antiga, El-Dahar, e a moderna, com hotéis, restaurantes e lojas comerciais. Há pouco tempo, inaugurou-se o Museu de Hurghada, moderníssimo, o primeiro museu de antiguidades do Mar Vermelho, com cerca de 2 mil peças em exposição. Todo feito para visitas pedagógicas, as exposições estão organizadas pela linha do tempo, passando por todas as fases históricas do Egito, da Antiguidade Clássica aos tempos atuais. Show! Embora o Museu do Cairo seja maior e mais importante, pela quantidade de peças que possui, a maioria amontoada, e possui o tesouro de Tuthankamon, que todos querem visitar, ainda que rápido e sob pressão, rs,  o de Hurghada é mais organizado, didático e moderno. Super-recomendo a visita aos que podem ter o prazer de curtir as praias desse paraíso no Mar Vermelho. E ainda há um centro comercial excelente no início do museu para compras de qualidade, caso você não esteja em grupo com guia, pois eles só o deixam comprar nos lugares indicados por eles. Claro, as comissões que complementam seus salários.